Ver crianças e cães a brincar desperta em nós emoções e sentimentos de bem-estar, alegria, felicidade e amor.
O sorriso abre-se, o coração abranda a tensão diminui e a sensação de relaxamento e bem-estar instala-se à medida que a oxitocina invade o corpo e a mente. É assim que estamos programados.
No entanto, posso dizer-vos que não foram poucas as vezes em que presenciando este tipo de situações, e ao observar as interações entre cães e crianças, o meu sorriso se fechou, o coração acelerou, e a tensão disparou enquanto o corpo e a mente gritavam perigo à medida que a adrenalina e o cortisol subiam.
As crianças, assim como pessoas mais velhas e/ou com alguma condição debilitante encontram-se entre os grupos de risco no que diz respeito à ocorrência de mordidas. As últimas, porque para alem de poderem não conseguir identificar corretamente os sinais, terão mais dificuldade em defender-se.
As crianças, porque se comportam de uma forma altamente animada, são “naturalmente” agitadas, imprevisíveis e os seus gritos e correrias podem por um lado, incomodar cães mais sensíveis, ou por outro, ativar comportamento predatório em outros.
Isto ocorre muitas vezes devido a um Mismatch entre o “tipo “de cão escolhido, a composição familiar e a disponibilidade para a educação do cão (e da criança).
Por outro lado, e o mais importante, é que as crianças são um grupo mais vulnerável porque muitas vezes não estão a ser supervisionadas, e não compreendem (numa idade precoce) e/ou não são sensibilizadas a entender (quando já são capazes de o fazer) quais os sinais de alarme que um cão está a dar para comunicar que não está confortável.
As crianças devem aprender desde cedo a interpretar a linguagem dos cães e acima de tudo a respeitar a sua vontade. Devem ser claramente estabelecidos limites e desencorajados comportamentos impróprios e desajustados. Estes devem ser substituídos por interações adequadas com base no respeito e cooperação, tornando-os momentos de aprendizagem e diversão para ambos. Os benefícios são muitos para ambas as partes promovendo na criança o desenvolvimento afetivo, a empatia e o reconhecimento do “outro”, das suas necessidades e limites, promovendo a sua educação emocional. É incrível tudo o que uma criança pode aprender com um cão sobre tolerância respeito solidariedade e companheirismo, transpondo esses valores para o seu dia-a-dia e comportamento com os outros.
Habitualmente, as mordidas não ocorrem do nada. Os cães dão indicações claras de stress e evitamento como virar a cabeça para o lado, lamber a ponta do nariz, bocejar, sacudir-se e sair da situação procurando outro lugar onde possam estar sossegados. O que devemos respeitar sempre!
Uma compreensão sobre quando e como ocorrem as situações de mordida podem ajudar a entender quais os fatores de risco e assim agir na educação e prevenção.
De acordo com estudos e publicações internacionais sobre o assunto* crianças entre os 5 e os 9 anos de idade são aquelas que representam o universo populacional de maior ocorrência de mordidas (28,5 %). As faixas etárias entre os 10-14 (23,6%) e 2-4 (22,1%) sobressaem igualmente no numero de ocorrências.
A maior parte dos incidentes (65,2%) envolve cães que são ou da família nuclear, extensa ou de amigos da família.
O maior numero de mordidas (35,1%) aparece associada com o cão de um parente, amigo, conhecido ou vizinho, embora (30,1%) dos incidentes tenha ocorrido com o seu próprio cão ou ou com o cão da família.
Muitas das situações (34,2%) tiveram lugar na casa do cuidador e 30,3% ocorreram na casa de outra pessoa. As restantes ocorreram fora de casa.
Destas, e relativamente ao contexto em que tiveram lugar, (e é isto que é muito importante perceber) 17,5% ocorreram quando a criança estava a “brincar” com o cão, a alimentá-lo (18,5%) ou a “discipliná-lo” ou magoá-lo (13,5%).
Estarmos atentos sobretudo a este tipo de situações contextuais, e supervisiona-las de forma ativa e consciente é uma forma que temos de evitar situações que levem a mal entendidos e falhas de comunicação entre o cão e a criança evitando acidentes e fazendo com que tudo seja divertido e amigável.
A maior parte das situações ocorreu ao final do dia ou noite (32,7%) aos fins de semana (37,1%) ou no verão (37,7%).
Em suma os “acidentes” tendem a acontecer mais em ocasiões de lazer, quando as pessoas se juntam em casa, convivem mais umas com as outras e quando cães (conhecidos) e crianças interagem nas situações contextuais acima mencionados.
Relativamente a cães desconhecidos é importante dizer que não devemos deixar as crianças aproximarem-se prontamente de um cão que vejam na rua. É necessário entender que não conhecemos esse cão, os seus hábitos rotinas temperamento e personalidade. Talvez sejam sociáveis e adorem pessoas, talvez não, talvez gostem de crianças, talvez não. Na dúvida, agir com precaução.
Nada sabemos sobre as suas experiências, positivas ou negativas, o que vai influenciar o seu comportamento. Tal como com pessoas desconhecidas, não devemos entrar no espaço “privado” de um cão. Se ele estiver à vontade, quiser aproximar-se, se quiser contacto ou uma “festa” irá fazê-lo. A interação não deve nunca ser forçada. Imagine que um estranho vem de repente a correr na sua direção e lhe faz uma festa na cabeça…um pouco estranho não? Para muitos cães também pode ser uma situação bastante desconfortável e constrangedora.
Tudo isto vale ainda mais para cães que estejam dentro da sua propriedade ou presos, infelizmente por vezes acorrentados. As crianças não devem nunca aproximar-se de portões e/ou tentar interagir (às vezes tentando dar comida) com cães que estejam de alguma forma presos. Este tipo de circunstância aparece altamente representada em ataques fatais.
Relativamente a crianças com menos de 2 anos, é importante dizer que não devemos nunca deixar a criança e o cão sozinhos.
Quanto mais pequena é a criança, e aqui estamos a falar de recém-nascidos, maior é o risco de fatalidades na medida em que basta o cão pegar nela e carregá-la na boca para as consequências serem devastadoras. É neste sentido que apontam os números, dizendo que a maior parte destes incidentes (72%) se dão com crianças entre 1 dia e 2 meses de idade.
Colocamos a questão: então quão perigosos são os cães? Na verdade, “não são tão perigosos como chinelos de quarto, utensílios de cozinha ou árvores de Natal”. A probabilidade de sofrer uma fatalidade com um cão é de 1 em 18 milhões, sendo 2 vezes mais provável ganhar a lotaria ou 5 vezes mais ser atingido por um raio.
No que diz respeito à severidade, a maior parte dos incidentes de mordida (92,4%) não causam qualquer ferimento ou lesão enquanto que 7,5% levaram a um ferimento menor e 0,076% causaram um ferimento de moderado a a sério.
Com estes números pretendemos apenas informar e conscientizar para que estejam atentos e invistam na educação das vossas crianças e patudos.
Se as crianças e cães podem ser melhores amigos? Com certeza que sim! E falo por experiência própria. Estejam atentos aos sinais que eles nos transmitem e o que nos querem dizer.
Se tem dúvidas sobre a educação a dar aos vossos patudos e pretendem que as vossas crianças estabeleçam relações mais equilibradas com eles não hesitem em contactar-nos! Temos atividades lúdicas muito divertidas para fortalecer a sua relação e tornar tudo mais calmo aí em casa 😊
Obrigada por nos acompanharem !
*Referencias bibliográficas:
O’Heare, J. (2017) Aggressive Behaviour in Dogs: 3rd edition. BehaveTech Publishing, Ottawa Canada.
Bradley, J. (2005) Dogs bite: But ballons and Slippers Are More Dangerous: 1st edition. James & Kenneth Publishers.
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