A sociabilização e habituação dos filhotes de cachorro são etapas essenciais para prepará-los para uma vida saudável e equilibrada como animais de estimação. Desde as primeiras semanas de vida até às 9-10 semanas, os criadores e futuros donos desempenham um papel fundamental no desenvolvimento dos cães. Neste artigo, vamos explorar as fases e práticas recomendadas para promover uma sociabilização adequada, proporcionando uma base sólida para o bem-estar e a felicidade dos cachorros em seu novo ambiente.
No início da 3ª semana, os cachorros entram num período transicional, deixando para trás a total dependência da mãe e desenvolvendo padrões de comportamento mais adultos. Nesta fase, adquirem controlo sobre a termorregulação e os olhos começam a abrir, embora a retina ainda não seja capaz de visualizar corretamente até ao final da 4ª semana. É um período curto, mas de grande importância para o desenvolvimento dos sentidos, audição e locomoção. Neste contexto, o papel do criador é fundamental ao implementar um protocolo de estimulação precoce, envolvendo estimulação motora, térmica e tátil. Esse protocolo tem demonstrado resultados incríveis, como melhorias no batimento cardíaco, tolerância ao stress e maior resistência a doenças. Além disso, é crucial que os cachorros tenham contacto com pessoas e outros animais desde cedo, pois quanto mais cedo isso acontecer, melhor será a sua resposta a esses estímulos. Por volta da 4ª semana, os cachorros entram no chamado "período sensitivo", onde começam a se aproximar prontamente de novos objetos, pessoas e outros animais. Esse é um tempo de curiosidade, exploração e novidades, marcando o início do processo de socialização. Durante este período, é importante continuar com a estimulação precoce.
Brinquedos com diferentes texturas devem ser oferecidos aos cachorros para estimulá-los mentalmente. Esses brinquedos devem ser introduzidos à medida que os cachorros começam a passar breves períodos sozinhos, preparando-os e habituando-os à ausência dos cuidadores no futuro. Além disso, o criador deve aproveitar esse período precoce de socialização para apresentar diferentes pessoas, crianças e outros animais ao cachorro, se possível. É fundamental que as interações sejam sempre positivas e gratificantes.
Durante a 5ª semana, o processo de socialização deve continuar, pois os seus efeitos terão um impacto significativo na qualidade de vida futura do cachorro. Se os cachorros não tiverem contato frequente com humanos durante as 3ª e 5ª semanas, poderão começar a manifestar uma tendência crescente de afastamento. A partir da 5ª semana, também começam a mostrar mais resistência ao manuseio. Portanto, não há tempo a perder. É importante encorajar brincadeiras, facilitar o acesso a diferentes brinquedos com variedade de tamanhos e texturas para mantê-los ocupados e mentalmente estimulados. Nessa fase, os futuros cuidadores devem levar um cobertor confortável ao criador. A ideia é que, quando o cachorro for para a sua nova casa, o cobertor esteja impregnado com o cheiro da mãe e dos irmãos, além de se habituar ao cheiro dos futuros cuidadores e da nova casa, proporcionando conforto quando chegar o momento da mudança. Nesse sentido, é importante que os cuidadores façam visitas regulares ao cachorro.
Chegando à 6ª semana, ainda há muito a ser feito! Normalmente, as mães começam a rejeitar os cachorros a partir da 4ª semana, não permitindo que amamentem sempre que desejam, o que faz com que os cachorros comecem a lidar com a frustração. Esse fato permite que ganhem confiança e, nessa altura, já devem estar habituados a passar algum tempo sozinhos. Como necessitam de mais alimentação, é possível introduzir dispensadores de comida quando ficam sozinhos. Além disso, é recomendado começar a dar comida à mão, o que pode ser usado para fazer o cachorro seguir-nos e como um reforço positivo em situações desafiadoras, como quando experimentam diferentes texturas, sejam elas rugosas, suaves, secas ou molhadas, como relva, terra, areia ou calçada. A exposição a diferentes sons e objetos dentro de casa deve continuar, incluindo secadores de cabelo, aspiradores, máquinas de lavar, campainhas e caixas. O mesmo deve ser feito no exterior, levando o cachorro para lugares diferentes, permitindo que experiencie as vistas, sons e cheiros do mundo lá fora, para se habituar a esses estímulos. Se não for possível colocar o cachorro no chão, ele deve ser carregado ao colo. Também é importante que o cachorro seja introduzido ao carro antes de ser levado para a sua nova casa, evitando que essa seja a sua primeira experiência no veículo.
À medida que se aproxima a 7ª semana, é hora de os novos cuidadores começarem a pensar em preparar a casa para receber o cachorro, fazendo uma lista de objetos potencialmente perigosos e providenciando tudo o que será necessário para acomodá-lo. A exposição e habituação a diferentes estímulos ambientais devem continuar, mas com precaução. Durante o período que vai das 8 às 10 semanas, os cachorros passam por um "período de medo", caracterizado pelo evitamento. Eles podem assustar-se facilmente e reagir com mais receio a estímulos que anteriormente não lhes causavam qualquer reação. É um período sensível ao qual se deve estar atento, evitando sobrecarregar o cachorro com novos estímulos e stress.
No final da 8ª semana, é o momento habitual para o cachorro ir para a sua nova casa. Os cuidadores devem preferencialmente buscar o cachorro durante a manhã, permitindo que ele tenha tempo para se adaptar confortavelmente ao novo ambiente doméstico. É imprescindível ter um "parquinho" fechado, que será o local onde o cachorro passará a maior parte do tempo. Esse espaço deve ser confortável e dividido em três áreas: uma área para dormir, com um cobertor confortável (aquele que foi levado do criador), outra para brincar com brinquedos de diferentes cores, formatos e texturas, e uma área para comer e beber, considerando o uso de dispensadores e kongs gelados para aliviar a coceira e o desconforto causado pelo rápido crescimento dos dentes. Pode-se criar também uma área separada para a "casa de banho", embora seja preferível começar o treino desde cedo para evitar hábitos indesejados. Assim, o cachorro deve estar sempre sob supervisão (mesmo quando está no parquinho), e quando isso não for possível, deve ser impedido de ter acesso ao exterior do parque. O cachorro mostrará sinais de que precisa fazer as suas necessidades, como cheirar insistentemente ou mover-se em círculos, nesse momento deve ser levado imediatamente para o local adequado. Esses momentos de necessidades irão ocorrer principalmente pela manhã, ao acordar, depois de beber, comer ou brincar, e antes de dormir à noite. Quando o cachorro fizer as suas necessidades no local correto, deve-se reforçar esse comportamento com petiscos, elogios e festas. Para ajudar o cachorro a sentir-se confortável no parquinho, podem-se colocar petiscos escondidos no interior e sempre dar comida nesse local, construindo uma associação positiva. A primeira noite pode ser difícil para os cuidadores e especialmente para o cachorro, por isso o parquinho pode ser levado para o quarto durante a noite para proporcionar mais conforto. Conforme o cachorro se for habituando, o parquinho deve ser gradualmente movido para o local onde ficará definitivamente. Uma botija de água quente pode ser colocada debaixo do cobertor para proporcionar uma sensação de calor.
Durante a 9ª e 10ª semana, o processo de sociabilização dentro e fora de casa deve ocorrer de forma sistemática. Se houver sinais de stress ou medo (característicos do "período de medo"), deve-se ter muita precaução, dando tempo e espaço ao cachorro. Nessa altura, é recomendado introduzir a coleira, arnês e trela de forma positiva, criando associações positivas, e iniciar algum treino sobre "boas maneiras", educação básica e caminhada à trela. Nessa fase, o cachorro já deve ter desenvolvido uma ligação emocional forte e positiva com os cuidadores. É importante lembrar que uma boa relação é baseada na cooperação e tolerância, buscando que o cachorro se sinta feliz na companhia dos cuidadores. Ele não obedece, mas coopera porque isso lhe proporciona prazer e gratificação. A participação em exposições apropriadas e aulas para filhotes antes das 12 semanas também é aconselhada, criando oportunidades para prevenir comportamentos inadequados ou indesejados.
Em conclusão, é crucial proteger e educar o nosso cachorro de forma coerente, promovendo e facilitando boas experiências e construindo associações positivas com o mundo que os rodeia. Seguindo as etapas de sociabilização e habituação mencionadas ao longo deste guia, estaremos fornecendo uma base sólida para o desenvolvimento saudável e equilibrado do nosso cachorro.
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